sábado, 1 de setembro de 2012

Semântica formal

O estudo da semântica torna-se muito amplo quando se entende que esta estuda o significado das línguas naturais. É preciso considerar que, dependendo do ponto de vista, a noção de significado pode mudar. Portanto, entende-se que esse estudo pode ser realizado de vários ângulos.
A semântica formal, todavia, parte do princípio de que é preciso conhecer as condições de verdade de uma sentença para sabermos o seu significado. Esse ponto de vista tem por base a concepção de signo linguístico postulada por Frege, que o entende como a união de uma referência (aquilo do que se fala) e um sentido (o modo de apresentação do objeto).
Conhecer o significado de uma sentença é, portanto, nessa perspectiva, conhecer suas condições de verdade, o que significa conhecer as circunstâncias em que a sentença pode ser considerada verdadeira ou falsa.
A referência constitui o modo de se referir ao objeto a que se refere. Para tanto, temos outras possibilidades que vão além do uso do léxico simplesmente. As regras sintáticas, por exemplo, podem contribuir para que isso ocorra.
Nesse sentido, se temos os seguintes enunciados:
(a) João ama Maria.
(b) Maria ama João.
Podemos entender quem é objeto e quem é o sujeito do verbo pelas construções sintáticas, tornando os elementos ora agente, ora paciente da ação enunciada pelo verbo amar. Além disso, existem algumas maneiras de se referir a indivíduos no mundo. É o caso, por exemplo, do jogador de futebol, atualmente em destaque, que já foi referido pela
mídia de diferentes formas: “Ronaldinho”, “o fenômeno”, “o gorducho”.
Essas formas definidas de se referir ao mesmo indivíduo são reconhecidas pelo brasileiro devido às condições que as tornam verdadeiras. Portanto, verificamos que a verdade não está relacionada ao que é inerente ao ser referido, mas à construção dela no contexto social em que ele se encontra.
Torna-se relevante, portanto, diferenciar referência de sentido. No exemplo dado, sabemos que todas as expressões apontam para o mesmo indivíduo no mundo, ao jogador de futebol que se chama Ronaldo. Esta é a referência.
No entanto, cada uma das expressões tem um sentido diferente, pois elas nos informam que o indivíduo Ronaldo pode ser encontrado no mundo por caminhos diferentes.
Esses contextos que permitem a substituição de termos com a mesma referência são denominados contextos referenciais ou extensionais (em oposição ao que é intensional, isto é, encontra-se na dimensão do próprio enunciado).
Assim, deve-se observar que há as relações semânticas tanto no nível das palavras quanto no das sentenças, e algumas delas são estabelecidas entre os sentidos das expressões, ao passo que outras se estabelecem entre suas referências.
Acarretamento e pressuposição
No nível da palavra, quando temos a hiponímia e a hiperonímia, observamos que há o significado de uma palavra contido no significado de outra.
Pode-se, então, transferir essa noção para o nível da sentença para se chegar à noção de acarretamento. Vejamos os exemplos:
(c) João continua fumando.
(d) João fuma desde adolescente.
A informação descrita no enunciado (d) está contida no enunciado (c), o que nos leva a afirmar que (d) é hipônimo de (c), isto é, a afirmação em (c) acarreta a afirmação em (d). No entanto, a hiponímia pode ser estabelecida entre sentidos, ao passo que o acarretamento se estabelece exclusivamente entre referências. Isso quer dizer que uma sentença acarreta outra se a verdade da primeira garante a verdade da segunda ou a falsidade da segunda garante a falsidade da primeira.
A noção de acarretamento leva à noção de pressuposição, pois ambas estão relacionadas ao que se denomina implicação. Assim, por exemplo, dizer que (e) implica (f) é apenas sugerir que (f) seja verdadeira:
(e) Hoje tem sol.
(f) Hoje é dia de praia.
Afirmar que a verdade de (e) torna verdade a sentença (f) é apenas provável, mas não necessariamente verdadeiro. A noção de pressuposição vai além do conteúdo informacional da sentença, está relacionada às condições de uso determinadas pelo discurso.
Pode-se dizer que uma informação é pressuposta quando ela se mantém mesmo que seja negada. Por exemplo, se alguém disser que o aparelho parou de falhar depois que foi levado ao conserto, concluímos que o aparelho falhava antes, e se dissermos que o aparelho não parou de falhar mesmo depois de levado ao conserto, também concluímos que ele falhava antes.
A pressuposição está, pois, ligada às estratégias de orientação argumentativa no discurso. Assim, por meio do que o falante seleciona como pressuposto e o apresenta, pode direcionar a argumentação manifestada no texto.
Ambiguidade
A ambiguidade é estabelecida quando se pode atribuir mais de um sentido ao que foi dito. E isso pode ocorrer em relação ao significado das palavras, ou devido à construção sintática da sentença ou, até mesmo, pela forma como se faz referência no texto.
Veja o exemplo:
“- Oi, Helda. Cadê o Hagar?
- Ele tá no trono.
- O que um plebeu como Hagar tá fazendo no trono?”
A palavra trono produz ambiguidade, e o personagem a entende em seu sentido literal, o que rompe com a coerência e leva ao humor do texto. Entretanto, a ambiguidade pode correr na organização sintática da sentença ou ainda na referenciação. Vejamos: (g) O policial prendeu o ladrão da viatura.
O sintagma “da viatura” produz ambiguidade. Pode-se entender que foi o local em que o policial prendeu o ladrão ou que este havia roubado uma viatura.
(h) João encontrou sua carteira na rua.
O pronome possessivo é um elemento anafórico que pode retomar o sujeito da oração, “João”, ou pode estar se referindo a uma terceira pessoa do contexto situacional.
Para finalizar esse tópico, vejamos algumas manchetes encontradas em jornais, nas quais há ambiguidade:
“Von Poser mostra imagens captadas a bordo de dirigível”.
“Lula vê PT ‘insano’ e diz ‘pôr a mão no fogo’ por Mercadante”.
“Candidato do PT interpela vice de Serra no Supremo”.
Temos, então, na construção de sentido dos textos, fatos linguísticos e extralinguísticos que contribuem para que o texto não se torne cansativo por apresentar informações explícitas do início ao fim, por exemplo.
Para tanto, verificamos o sentido figurado dos significados construídos no texto, o qual está relacionado às questões relativas a pressuposto, subentendido e implícito.
Tomemos como exemplo a seguinte afirmativa:
O pneu do carro parou de trepidar.
O pressuposto é que o pneu trepidava antes.
A informação implícita é a de que o carro estava com problemas e, portanto, deveria ser arrumado.
Como subentendido, pode-se dizer, então, que não será mais preciso levar o carro à oficina mecânica.
Consulte a mesma obra de ILARI, sugerida na bibliografia básica e referida anteriormente, para compreender esses conceitos. 

4 comentários:

  1. Parabéns e Obrigada pelo conteúdo, me ajudou bastante na atividade da faculdade.

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  2. Parabéns e Obrigada pelo conteúdo, me ajudou bastante na atividade da faculdade.

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  3. oh. que maravilha. Esta explicação esta bem clara.Parabéns! me ajudou muito na faculdade

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