sábado, 1 de setembro de 2012

FIGURAS DE PALAVRAS

Segundo Martins (2000: 71),
“ A Estilística léxica ou da palavra estuda os aspectos expressivos das palavras ligados aos seus componentes semânticos e morfológicos, os quais, entretanto, não podem ser completamente separados dos aspectos sintáticos e contextuais”.
Há duas formas de associação entre o sentido habitual e o sentido novo de uma palavra. A primeira diz respeito a uma relação de semelhança entre o significado de base e o novo, que se denomina metáfora. Se a associação ocorre por meio de uma relação de contigüidade, implicação, interdependência, tem-se, então, o que se denomina metonímia
Na construção do sentido dos textos, temos que considerar o sentido figurado das palavras. Para tanto, veremos algumas figuras de palavra, sobretudo as figuras básicas - metáfora e metonímia - as quais compreendem processos que originam outras figuras.


A Metáfora
“... uma comparação em que o espírito, induzido pela associação de duas representações, confunde num só termo a noção caracterizada e o objeto sensível tomado como ponto de comparação...”, segundo Bally (apud MARTINS, 2000: 92)
Bally agrupa as expressões figuradas em três grupos: imagens concretas, sensíveis, imaginativas; imagens afetivas; imagens mortas. Exs.:
a) imagens concretas: “O vento engrossa sua grande voz”.
b) imagens afetivas: “O doente declina dia a dia.”
c) imagens mortas: escrúpulo, do latim scrupulu (designava uma pedrinha usada para pesar coisas pequenas; passou a designar a honestidade do negociante que não queria causar ao freguês o menor prejuízo, genaralizando-se o seu sentido para o de “meticulosidade”).
Enfim, “as imagens concretas são apreendidas pela imaginação, as afetivas pelo sentimento ou pelos sentidos e as mortas por uma operação intelectual...”
Segundo Ullmann, o termo imagem é o mais geral e abrange metáfora e símile (em casos mais raros a metonímia).
O símile se distingue da comparação gramatical, intensiva, por relacionar termos de diferente nível de referência, isto é, termos de natureza diferente.
Ex. O homem era forte como um touro.
No símile podemos ter quatro elementos explícitos: o comparado ou termo real (homem), o comparante ou termo irreal, imaginário, metafórico (touro), o análogo, que explicita o ponto comum entre os dois termos (forte) e o nexo gramatical (como).
Na linguagem falada essas comparações intensificadoras são freqüentes, como por exemplo em “Surdo como uma porta”; “Liso como sabão” etc.
Em certas expressões, o comparante ressalta a ironia : “Sutil como um elefante”.
O nexo comparativo mais usual é como, mas são numerosos os torneios equivalentes, inclusive palavras nocionais como verbos, sendo alguns mais característicos da linguagem popular (que nem, feito) e outros da linguagem culta (tal, à semelhança de, análogo a).
Exemplos selecionados por Martins:
<!--[if !supportLists]-->a) <!--[endif]-->“Estrondeavam pragas, qual um bafo do inferrno” (José Américo, A bagaceira, p. 193)
<!--[if !supportLists]-->b) <!--[endif]-->“Isso de querer-bem da gente é que nem avenca peluda, que murcha e, depois de tempo, tendo água outra vez fica verde”. (G. Rosa. Sag., p. 216)
<!--[if !supportLists]-->c) <!--[endif]-->“Os olhos dela brilhavam reproduzindo folha de faca nova”. (G. Rosa, Urubuquaquá, p. 140)
A metáforapode ocorrer com substantivos, adjetivos e verbos, mas a metáfora de substantivo é mais comum. Nesse tipo de metáfora tem-se a relação entre dois substantivos (A, termo real; B, termo imaginário), entre os quais se encontram traços comuns (semelhança).
Para que haja metáfora, os termos comparados devem pertencer a universos diferentes. Como, por exemplo, ao dizer “Jorge é um touro”, há implícita a comparação entre o homem e o animal, entre os quais é estabelecido um traço de semelhança, no caso, de forte ou de violento.
Nas metáforas lexicalizadas, mortas, o termo B substitui o termo A, com perda do teor expressivo; a metáfora torna-se um processo denominativo (catacrese) como, por exemplo, em minhocão (elevado na cidade de São Paulo), orelhão (telefone), borboleta(catraca ou roleta dos ônibus), tartaruga (saliência nas ruas para forçar os carros a diminuírem a velocidade) etc.
No caso de metáforas de adjetivo e de verbo, estas se caracterizam pela inadequação lógica ou não-pertinência ao substantivo com que se relacionam sintaticamente. São exemplos: palavras ocas, caráter reto, nota preta, mesada gorda, arrotar grandeza etc.
Na atribuição de juízos de valor, a metáfora pode ser utilizada para expressar exagero, indicando exaltação ou depreciação e tem um papel importante na expressão da ironia.
Vejamos o anúncio publicitário:

A metáfora é a alteração do sentido de uma palavra, pelo acréscimo de um significado segundo, quando entre o sentido de base, e o acrescentado há uma relação de semelhança, de intersecção, isto é, quando eles apresentam traços semânticos comuns. Sendo assim, no texto publicitário acima, a metáfora ocorre ao comparar o produto com liberdade. A frase “Red Bull te dá asas” e a imagem de um homem com asas reforçam essa comparação.
A Metonímia
Segundo Michel Le Guerri (apud Martins, 2000: 102)
é a figura pela qual uma palavra (substantivo) que designa uma realidade A é substituída por outra palavra que designa uma realidade interdependência, que une A e B, de fato ou no pensamento."
Vemos, portanto, que a metáfora se estabelece por semelhança, ao passo que a metonímia se dá por contigüidade.
No dia a dia encontramos expressões metonímicas e nem nos damos conta desse recurso expressivo da língua. É o caso de “ter um teto para morar”, “ o pão nosso de cada dia” , entre outras.
Todavia, trata-se de um recurso muito utilizado para produzir a beleza de um texto poético.
Veja os exemplos:
Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê” (A mão da limpeza de Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil)
“Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva...” ( Tatuagem de Chico Buarque e- Ruy Guerra)

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