INTRODUÇÃO À
LINGUÍSTICA
Fernanda Mussalim
Anna Christina Bentes
Morfologia: Capítulo cinco do
livro Introdução à Linguística de Fernanda Mussalim
RESUMO:
INTRODUÇÃO:
A Morfologia é muito controversa no
estudo da linguagem natural, especialistas se debatem tomando posições
totalmente diferentes, alguns a consideram como o principal componente do
estudo gramatical e outros simplesmente a desconsideram por total.
No capítulo cinco do livro Introdução
à Linguística de Fernanda Mussalim, é apresentada uma introdução aos
estudos da Morfologia e tem como foco a controvérsia que caracteriza esta área.
A obra é de partes escrita por vários autores e organizada por Fernanda
Mussalim e Anna Christina Bentes. É organizada da seguinte maneira: em primeiro
lugar, apresenta noções básicas relacionadas aos estudos morfológicos; em
seguida apresenta discussões sobre o papel da morfologia em dois quadros
teóricos: o estruturalista e o da teoria gerativa; por fim tenta fazer
percebemos que o momento atual vai à direção de um maior acordo sobre o papel
da Morfologia na Gramática.
A MORFOLOGIA E SUAS UNIDADES BÁSICAS:
A Morfologia é
definida frequentemente como componente da gramática que trata da estrutura
interna das palavras. O capítulo lido exalta que nas línguas polissintéticas,
como a língua kadiwéu falada no Mato Grosso do Sul, ou o georgiano falado na
Europa oriental certas sequências de sons são consideradas apenas uma palavra,
ou seja, o significado não ajuda. Diz que critérios semânticos não nos ajudam a
definir uma palavra, nem tampouco os fonológicos.
Também é dito que
muitos linguistas preferem definir palavras usando critérios sintáticos, o que
parece funcionar em qualquer língua do mundo.
“Uma sequência de sons somente pode
ser definida como uma palavra se puder ser usada como resposta mínima a uma
pergunta e se puder ser usada em várias posições sintáticas” ( Mussalim,
Fernanda. Introdução à Linguística v1, 2006, p.182).
A leitura implica
que a palavra é a unidade mínima que pode ocorrer livremente e uma vez assumida
essa definição de palavra, podem-se diferenciar vários elementos que carregam o
mesmo significado, mas que não possuem o mesmo status gramatical. Assim como o
pronome clítico lhe, embora possa ser carregador do mesmo significado
que um pronome, não pode ser caracterizado como uma palavra, pois não atinge
certos critérios sintáticos definidos.
Com a definição da
palavra consegue-se a unidade máxima da Morfologia. Assim, suas unidades
mínimas seriam os elementos que compõem uma palavra, ou seja, os morfemas, pois
são eles que carregam significado dentro de uma palavra.
O QUADRO ESTRUTURALISTA:
Para o quadro
estruturalista é dito que uma das preocupações é de explicar como reconhecemos
palavras que nunca ouvimos antes e como podemos criar outras nunca proferidas.
A resposta é que nosso conhecimento de morfemas da língua é o que nos dá esta
capacidade. Assim o problema central da Linguística para o quadro
estruturalista é identificar os morfemas que existem em cada língua do mundo.
No capítulo também
são mencionadas algumas diferenças entre a morfologia do português e a do
kadiwéu.
“... o kadiwéu separa os morfemas de
pessoa daqueles de número. Já o português agrupa estes traços semânticos em um único
morfema.” ( Mussalim, Fernanda. Introdução à Linguística v1, 2006, p.186).
A seção do quadro estruturalista é
finalizada com a afirmação de que certos fenômenos gerados pela interação entre
a Fonologia e a Morfologia são de fundamental importância tanto para o
estruturalismo quanto para o gerativismo.
MORFONOLOGIA E A TEORIA GERATIVA PADRÃO:
Na seção Morfonologia e a teoria
gerativa padrão o objetivo é introduzir o estudo da relação entre Fonologia e
Morfologia tendo como base os primeiros anos do gerativismo (Chomsky &
Halle, 1968). Mostra que a Morfologia sofre bastante impacto da Fonologia, pois
ela pode definir onde o morfema será inserido na palavra e também na própria
forma fonética dos morfemas e isso é muito importante para teoria padrão.
As variantes de um mesmo morfema são
chamadas de alomorfes que podem ser derivados por meio de regras fonológicas.
Para um exemplo e maior conhecimento sobre uma regra fonológica, devemos ler o
capítulo Fonologia deste mesmo livro.
O Capítulo também faz referência que
na década de sessenta dentro da teoria gerativa nada obrigava a escolher uma
forma existente na língua como a forma subjacente.
“ Naquele momento era permitido
postular uma forma jamais realizada na língua como a representação subjacente
de um dado morfema(desde que fosse possível derivar de forma subjacente
postulada todas as formas alomórficas por meio de regras fonológicas), o que é
conhecido como neutralização absoluta. Esse tipo de abordagem coloca um sério
problema para a aquisição de linguagem. Como pode uma criança adquirir uma
forma que jamais ouviu? Na teoria gerativa recente, neutralizações absolutas
não são permitidas. ” ( Mussalim, Fernanda. Introdução à Linguística v1, 2006,
p.190).
A seção é finalizada com a
apresentação da seguinte que trata de apresentar um histórico do
desenvolvimento do estudo da Morfologia na teoria gerativa, mostrando que a
Morfologia tem também uma interface com a Sintaxe, além da interface com a
Fonologia.
O DESENVOLVIMENTO DA TEORIA GERATIVA:
Nessa seção é mostrado que depois da
apresentação da teoria gerativa na década de sessenta, a morfologia e a
descrição morfológica de línguas perderam espaço para se buscar os universais
da linguagem. Por esse motivo o estudo de formação de sentenças (Sintaxe)
passou a ser o ponto central da gramática, na sintaxe é que podemos ver uma
maior similaridade entre as línguas. E a Morfologia passou a ser tratada dentro
do componente fonológico por sua relação bastante importante com a Fonologia e
deixou de ser um componente da Gramática.
A Morfologia passou a ser tratada
dentro da Fonologia Lexical e os morfemas seriam acionados uns aos outros no
léxico, as regras fonológicas seriam aplicadas depois da adição de cada morfema
e mostra o que são regras cíclicas e não-cíclicas tanto quando devem ser
aplicadas.
Mostra que o léxico é um local de
armazenamento de irregularidades memorizadas e que cada língua tem seu léxico
específico.
“De acordo com Chomsky (1970), a
Sintaxe seguiria toda e qualquer operação lexical, manipulando palavras
inteiras, sendo, portanto, cega à estrutura interna das palavras, isto é, às
operações lexicais. Essa perspectiva, entretanto, se mostrou simplista demais
no decorrer da década de oitenta.” ( Mussalim, Fernanda. Introdução à
Linguística v1, 2006, p.192).
Foi apresentado que os morfemas
possuem duas classes: flexionais e derivacionais. E ressalta que os flexionais
são relevantes para Sintaxe e não podem ser ignorados. Para demonstrar essa
afirmação é definido Morfologia Flexional e Morfologia Derivacional que
apresentam as seguintes propriedades:
· A Morfologia Derivacional tem a
característica de alterar a categoria gramatical de uma palavra, como a de
transformar um substantivo em adjetivo. Ela não é produtiva não é qualquer
morfema derivacional que pode ser adicionado a qualquer raiz.
· A Morfologia Flexional não altera
categorias, mas sim estabelece ligações entre as palavras. Ela acena e mostra
sua relevância para a Sintaxe. A morfologia Flexional é produtiva, assim
qualquer verbo pode ser marcado por um fonema indicando terceira pessoa do
plural e qualquer artigo pode ser pluralizado com algumas exceções muito raras.
A maior evidência
da importância dos morfemas flexionais para a Sintaxe vem de morfemas que
indicam caso. Os Morfemas de caso são conhecidos por se apresentarem
adicionados ao núcleo de um sintagma nominal indicando o papel sintático deste
sintagma.
É interessante observar que o sistema
de caso tem um impacto na ordem de constituintes sintáticos, e esta é uma
evidência forte para a afirmação de que a Sintaxe é sensível à Morfologia
Flexional.
“A hipótese de Chomsky (1970), de que
a Sintaxe deveria ser cega para a Morfologia, ficou conhecida como hipótese
lexicalista. Mas a discussão levantada por Anderson (1982) convenceu a
comunidade linguística de que a sintaxe não pode ser cega a Morfologia
Flexional. A divisão entre Morfologia Derivacional como processo lexical e
Morfologia Flexional como um processo sintático passou a ser conhecida por
hipótese lexicalista fraca. Assim, vemos a Morfologia Flexional ganhar um
espaço dentro da árvore sintática”. ( Mussalim, Fernanda. Introdução à
Linguística v1, 2006, p.195).
Degraff (1997) apresenta que a flexão
verbal deve realmente ocupar uma posição na estrutura sintática. Ele mostra
diferenças entre o francês e o haitiano, relativas ao posicionamento de
advérbios que podem ser elegantemente capturadas ao assumirmos que a flexão
verbal ocupa uma posição sintática.
A teoria sintática ganha uma teoria
de caso, isto é, caso passou a ser visto como um fenômeno puramente sintático.
Assim, dentro da teoria gerativa todas as línguas contam com atribuição de
caso; as línguas apenas diferem no fato de que algumas têm caso,
morfologicamente marcado e outras não.
Como fundador da discussão sobre o
lugar da Morfologia na Gramática, Anderson (1982) não seguiu a mesma corrente
que deslocou a Morfologia Flexional do léxico para sintaxe, e fundou um quadro
teórico para a análise de Morfologia Flexional. A ideia do quadro é a proposta
de que os morfemas não constituem a unidade mínima da Morfologia, mas sim os
traços, que foram definidos aqui como propriedades semânticas mínimas. Os
traços morfológicos seriam do tipo +1pessoa, +passado etc.
Essa proposta de Anderson foi adotada
pelo Minimalismo de Chomsky (1993, 1995) e pela teoria denominada Morfologia
Distribuída, de Halle & Marantz (1993, 1995), na década de noventa. O
Minimalismo reformulou totalmente o papel da Morfologia dentro da teoria
linguística, a morfologia voltou a contar com certo papel de destaque. Segundo
os adeptos do Minimalismo a Morfologia guia a Sintaxe. Entretanto apesar da
morfologia voltar a ter um papel de destaque ela ainda continuou a ser parte da
Sintaxe.
Os adeptos da
Morfologia Distribuída defendem que a teoria deve ser modular, mas diferente do
Minimalismo, afirmam que a Morfologia tem seu próprio componente, definido como
um nível de interface entre a Sintaxe e a Fonologia. Assim, segundo esta
perspectiva, o módulo da Morfologia está localizado entre a Sintaxe e a
Fonologia, deste modo, a Sintaxe é visível para a Morfologia e a Morfologia é
visível para a Fonologia.
A Morfologia Distribuída passou a
recusar a ideia de que as Morfologias Derivacional e Flexional estão separadas
em dois módulos distintos e dependentes da Fonologia Lexical e da Sintaxe.
“A Morfologia Distribuída passou a
recusar a ideia de que as Morfologias Derivacional e Flexional estão separadas
em dois módulos distintos e dependentes da Fonologia Lexical e da Sintaxe,
respectivamente. Este modelo defende que a morfologia, como um todo, tem seus
processos independentes de quaisquer outros fenômenos linguísticos. Segundo
Halle & Marantz (1993), processos morfológicos incluem fenômenos como fusão
e fissão, os quais não caracterizam nenhum outro modulo linguístico.” (
Mussalim, Fernanda. Introdução à Linguística v1, 2006, p.198).
Outro fenômeno linguístico muito
discutido na década de oitenta e que ainda continua sendo objeto de
controvérsia, são os pronomes clíticos. Os clíticos não podem ser classificados
como palavras, pois não ocorrem livremente em qualquer posição sintática e nem
ocorrer em isolamento, mas também não podem ser classificados como afixos, pois
afixos tem posição fixa em relação ao seu hospedeiro.
OUTROS DESENVOLVIMENTOS DENTRO DA
TEORIA GERATIVA ATUAL
Aqui é exposta uma visão geral dos
fenômenos encontrados ao trabalhar com Morfologia e mostra que esses fenômenos
nem sempre são concatenativos, Isto é, processados por meio da adição de
morfemas. Alguns exemplos destes processos são:
· Mistura: palavras criadas
com a junção de parte de duas palavras já existentes, por exemplo, portunhol,
mistura de português e espanhol.
· Abreviação: um processo que
uma palavra é criada pelo truncamento de outra, por exemplo, biju para
bijuteria.
· Acronímia: palavras
iniciadas pelas letras iniciais de uma sigla, por exemplo, IEL de Instituto de
Estudos de Linguagem.
· Retroformação: processo que uma
palavra é formada pala desafixação de certos morfemas, por exemplo, delega de
delegado.
A Teoria da
Otimalidade ou Otimidade é completamente diferente da teoria chomskyana. A
teoria da otimalidade, proposta inicialmente por Prince & Smolensky (1993),
é uma teoria que nega a análise gramatical por meio de módulos. Esse modelo diz
que uma gramática particular é o resultado do ordenamento de um conjunto de
princípios universais, isto é, aplicados em todas as línguas, mas violáveis.
A teoria da
otimalidade não pretende, no entanto, ser uma teoria morfológica. Seu objetivo
é muito mais ambicioso. Ela pretende ser uma teoria da linguagem como um todo,
isto é, pretende analisar e explicar qualquer fenômeno linguístico por meio da
mesma instrumentação.
De acordo com o
modelo gerativo, otimalista ou não, os mecanismos responsáveis pela linguagem
são inatos e, portanto, independentes de aspectos culturais. Uma grande questão
que o quadro gerativo atual está se esforçando para responder é como pode haver
tamanha diversidade e uma gramática universal ao mesmo tempo.
A Morfologia, como
no estruturalismo, volta a ser o principal campo de investigação da teoria
gerativista atual. Neste ponto há uma convergência entre o gerativismo atual e
o estruturalismo, ao considerar a Morfologia como um ponto crucial de
investigação.
CONCLUSÃO:
O estudo da
morfologia é muito controverso e nesse capitulo essa questão é apresentada com
bastante ênfase pelas organizadoras. Contém textos escritos por grandes autores
e teorias apresentadas desde décadas atrás, até as mais atuais. O capítulo
mostra que a Morfologia é o estudo da formação e classificação de palavras em
si, e não como elas estão dentro de uma oração ou frase, ou seja, é o estudo da
estrutura interna das palavras. É visto que a palavra é a unidade máxima da
Morfologia e sua unidade mínima são os morfemas, são eles que compõem e
carregam o significado dentro de uma palavra.
No quadro
Estruturalista temos a preocupação de explicar como reconhecemos palavras que
nunca vimos antes e a resposta para isso é o nosso conhecimento de morfemas. O
problema central do Estruturalismo é o de identificar os morfemas existentes em
todas as línguas do mundo. A seção do quadro estruturalista é finalizada com a
afirmação de que certos fenômenos gerados pela interação entre a Fonologia e a Morfologia
são de fundamental importância tanto para o estruturalismo quanto para o
gerativismo.
Na teoria gerativa
padrão o objetivo é introduzir o estudo da relação entre Fonologia e Morfologia
tendo como base os primeiros anos do gerativismo (Chomsky & Halle, 1968). A
seção é finalizada com a apresentação da seguinte que trata de apresentar um
histórico do desenvolvimento do estudo da Morfologia na teoria gerativa,
mostrando que a Morfologia tem também uma interface com a Sintaxe, além da
interface com a Fonologia.
A partir desta
seção o capítulo passa a mostrar o desenvolvimento da Teoria Gerativa desde a
década de setenta até a década atual, apresentando a Morfologia Derivacional,
Morfologia Flexional, Minimalismo, Morfologia Distribuída e Teoria da
Otimalidade. Também apresenta alguns desenvolvimentos dentro da teoria gerativa
atual, como, por exemplo, a mistura, abreviação, acronímia e retroformação.
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