sábado, 20 de outubro de 2012

Morfologia



INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA
Fernanda Mussalim
Anna Christina Bentes

Morfologia: Capítulo cinco do livro Introdução à Linguística de Fernanda Mussalim

RESUMO:
INTRODUÇÃO:
A Morfologia é muito controversa no estudo da linguagem natural, especialistas se debatem tomando posições totalmente diferentes, alguns a consideram como o principal componente do estudo gramatical e outros simplesmente a desconsideram por total.
No capítulo cinco do livro Introdução à Linguística de Fernanda Mussalim, é apresentada uma introdução aos estudos da Morfologia e tem como foco a controvérsia que caracteriza esta área. A obra é de partes escrita por vários autores e organizada por Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes. É organizada da seguinte maneira: em primeiro lugar, apresenta noções básicas relacionadas aos estudos morfológicos; em seguida apresenta discussões sobre o papel da morfologia em dois quadros teóricos: o estruturalista e o da teoria gerativa; por fim tenta fazer percebemos que o momento atual vai à direção de um maior acordo sobre o papel da Morfologia na Gramática.


A MORFOLOGIA E SUAS UNIDADES BÁSICAS:
A Morfologia é definida frequentemente como componente da gramática que trata da estrutura interna das palavras. O capítulo lido exalta que nas línguas polissintéticas, como a língua kadiwéu falada no Mato Grosso do Sul, ou o georgiano falado na Europa oriental certas sequências de sons são consideradas apenas uma palavra, ou seja, o significado não ajuda. Diz que critérios semânticos não nos ajudam a definir uma palavra, nem tampouco os fonológicos.
Também é dito que muitos linguistas preferem definir palavras usando critérios sintáticos, o que parece funcionar em qualquer língua do mundo.

“Uma sequência de sons somente pode ser definida como uma palavra se puder ser usada como resposta mínima a uma pergunta e se puder ser usada em várias posições sintáticas” ( Mussalim, Fernanda. Introdução à Linguística v1, 2006, p.182).

A leitura implica que a palavra é a unidade mínima que pode ocorrer livremente e uma vez assumida essa definição de palavra, podem-se diferenciar vários elementos que carregam o mesmo significado, mas que não possuem o mesmo status gramatical. Assim como o pronome clítico lhe, embora possa ser carregador do mesmo significado que um pronome, não pode ser caracterizado como uma palavra, pois não atinge certos critérios sintáticos definidos.
Com a definição da palavra consegue-se a unidade máxima da Morfologia. Assim, suas unidades mínimas seriam os elementos que compõem uma palavra, ou seja, os morfemas, pois são eles que carregam significado dentro de uma palavra.


O QUADRO ESTRUTURALISTA:

Para o quadro estruturalista é dito que uma das preocupações é de explicar como reconhecemos palavras que nunca ouvimos antes e como podemos criar outras nunca proferidas. A resposta é que nosso conhecimento de morfemas da língua é o que nos dá esta capacidade. Assim o problema central da Linguística para o quadro estruturalista é identificar os morfemas que existem em cada língua do mundo.
No capítulo também são mencionadas algumas diferenças entre a morfologia do português e a do kadiwéu.

“... o kadiwéu separa os morfemas de pessoa daqueles de número. Já o português agrupa estes traços semânticos em um único morfema.” ( Mussalim, Fernanda. Introdução à Linguística v1, 2006, p.186).

A seção do quadro estruturalista é finalizada com a afirmação de que certos fenômenos gerados pela interação entre a Fonologia e a Morfologia são de fundamental importância tanto para o estruturalismo quanto para o gerativismo.


MORFONOLOGIA E A TEORIA GERATIVA PADRÃO:

Na seção Morfonologia e a teoria gerativa padrão o objetivo é introduzir o estudo da relação entre Fonologia e Morfologia tendo como base os primeiros anos do gerativismo (Chomsky & Halle, 1968). Mostra que a Morfologia sofre bastante impacto da Fonologia, pois ela pode definir onde o morfema será inserido na palavra e também na própria forma fonética dos morfemas e isso é muito importante para teoria padrão.
As variantes de um mesmo morfema são chamadas de alomorfes que podem ser derivados por meio de regras fonológicas. Para um exemplo e maior conhecimento sobre uma regra fonológica, devemos ler o capítulo Fonologia deste mesmo livro.
O Capítulo também faz referência que na década de sessenta dentro da teoria gerativa nada obrigava a escolher uma forma existente na língua como a forma subjacente.
“ Naquele momento era permitido postular uma forma jamais realizada na língua como a representação subjacente de um dado morfema(desde que fosse possível derivar de forma subjacente postulada todas as formas alomórficas por meio de regras fonológicas), o que é conhecido como neutralização absoluta. Esse tipo de abordagem coloca um sério problema para a aquisição de linguagem. Como pode uma criança adquirir uma forma que jamais ouviu? Na teoria gerativa recente, neutralizações absolutas não são permitidas. ” ( Mussalim, Fernanda. Introdução à Linguística v1, 2006, p.190).
A seção é finalizada com a apresentação da seguinte que trata de apresentar um histórico do desenvolvimento do estudo da Morfologia na teoria gerativa, mostrando que a Morfologia tem também uma interface com a Sintaxe, além da interface com a Fonologia.

O DESENVOLVIMENTO DA TEORIA GERATIVA:

Nessa seção é mostrado que depois da apresentação da teoria gerativa na década de sessenta, a morfologia e a descrição morfológica de línguas perderam espaço para se buscar os universais da linguagem. Por esse motivo o estudo de formação de sentenças (Sintaxe) passou a ser o ponto central da gramática, na sintaxe é que podemos ver uma maior similaridade entre as línguas. E a Morfologia passou a ser tratada dentro do componente fonológico por sua relação bastante importante com a Fonologia e deixou de ser um componente da Gramática.
A Morfologia passou a ser tratada dentro da Fonologia Lexical e os morfemas seriam acionados uns aos outros no léxico, as regras fonológicas seriam aplicadas depois da adição de cada morfema e mostra o que são regras cíclicas e não-cíclicas tanto quando devem ser aplicadas.
Mostra que o léxico é um local de armazenamento de irregularidades memorizadas e que cada língua tem seu léxico específico.
“De acordo com Chomsky (1970), a Sintaxe seguiria toda e qualquer operação lexical, manipulando palavras inteiras, sendo, portanto, cega à estrutura interna das palavras, isto é, às operações lexicais. Essa perspectiva, entretanto, se mostrou simplista demais no decorrer da década de oitenta.” ( Mussalim, Fernanda. Introdução à Linguística v1, 2006, p.192).


Foi apresentado que os morfemas possuem duas classes: flexionais e derivacionais. E ressalta que os flexionais são relevantes para Sintaxe e não podem ser ignorados. Para demonstrar essa afirmação é definido Morfologia Flexional e Morfologia Derivacional que apresentam as seguintes propriedades:

· A Morfologia Derivacional tem a característica de alterar a categoria gramatical de uma palavra, como a de transformar um substantivo em adjetivo. Ela não é produtiva não é qualquer morfema derivacional que pode ser adicionado a qualquer raiz.
· A Morfologia Flexional não altera categorias, mas sim estabelece ligações entre as palavras. Ela acena e mostra sua relevância para a Sintaxe. A morfologia Flexional é produtiva, assim qualquer verbo pode ser marcado por um fonema indicando terceira pessoa do plural e qualquer artigo pode ser pluralizado com algumas exceções muito raras.

A maior evidência da importância dos morfemas flexionais para a Sintaxe vem de morfemas que indicam caso. Os Morfemas de caso são conhecidos por se apresentarem adicionados ao núcleo de um sintagma nominal indicando o papel sintático deste sintagma.
É interessante observar que o sistema de caso tem um impacto na ordem de constituintes sintáticos, e esta é uma evidência forte para a afirmação de que a Sintaxe é sensível à Morfologia Flexional.
“A hipótese de Chomsky (1970), de que a Sintaxe deveria ser cega para a Morfologia, ficou conhecida como hipótese lexicalista. Mas a discussão levantada por Anderson (1982) convenceu a comunidade linguística de que a sintaxe não pode ser cega a Morfologia Flexional. A divisão entre Morfologia Derivacional como processo lexical e Morfologia Flexional como um processo sintático passou a ser conhecida por hipótese lexicalista fraca. Assim, vemos a Morfologia Flexional ganhar um espaço dentro da árvore sintática”. ( Mussalim, Fernanda. Introdução à Linguística v1, 2006, p.195).


Degraff (1997) apresenta que a flexão verbal deve realmente ocupar uma posição na estrutura sintática. Ele mostra diferenças entre o francês e o haitiano, relativas ao posicionamento de advérbios que podem ser elegantemente capturadas ao assumirmos que a flexão verbal ocupa uma posição sintática.
A teoria sintática ganha uma teoria de caso, isto é, caso passou a ser visto como um fenômeno puramente sintático. Assim, dentro da teoria gerativa todas as línguas contam com atribuição de caso; as línguas apenas diferem no fato de que algumas têm caso, morfologicamente marcado e outras não.
Como fundador da discussão sobre o lugar da Morfologia na Gramática, Anderson (1982) não seguiu a mesma corrente que deslocou a Morfologia Flexional do léxico para sintaxe, e fundou um quadro teórico para a análise de Morfologia Flexional. A ideia do quadro é a proposta de que os morfemas não constituem a unidade mínima da Morfologia, mas sim os traços, que foram definidos aqui como propriedades semânticas mínimas. Os traços morfológicos seriam do tipo +1pessoa, +passado etc.
Essa proposta de Anderson foi adotada pelo Minimalismo de Chomsky (1993, 1995) e pela teoria denominada Morfologia Distribuída, de Halle & Marantz (1993, 1995), na década de noventa. O Minimalismo reformulou totalmente o papel da Morfologia dentro da teoria linguística, a morfologia voltou a contar com certo papel de destaque. Segundo os adeptos do Minimalismo a Morfologia guia a Sintaxe. Entretanto apesar da morfologia voltar a ter um papel de destaque ela ainda continuou a ser parte da Sintaxe.
Os adeptos da Morfologia Distribuída defendem que a teoria deve ser modular, mas diferente do Minimalismo, afirmam que a Morfologia tem seu próprio componente, definido como um nível de interface entre a Sintaxe e a Fonologia. Assim, segundo esta perspectiva, o módulo da Morfologia está localizado entre a Sintaxe e a Fonologia, deste modo, a Sintaxe é visível para a Morfologia e a Morfologia é visível para a Fonologia.
A Morfologia Distribuída passou a recusar a ideia de que as Morfologias Derivacional e Flexional estão separadas em dois módulos distintos e dependentes da Fonologia Lexical e da Sintaxe.
“A Morfologia Distribuída passou a recusar a ideia de que as Morfologias Derivacional e Flexional estão separadas em dois módulos distintos e dependentes da Fonologia Lexical e da Sintaxe, respectivamente. Este modelo defende que a morfologia, como um todo, tem seus processos independentes de quaisquer outros fenômenos linguísticos. Segundo Halle & Marantz (1993), processos morfológicos incluem fenômenos como fusão e fissão, os quais não caracterizam nenhum outro modulo linguístico.” ( Mussalim, Fernanda. Introdução à Linguística v1, 2006, p.198).

Outro fenômeno linguístico muito discutido na década de oitenta e que ainda continua sendo objeto de controvérsia, são os pronomes clíticos. Os clíticos não podem ser classificados como palavras, pois não ocorrem livremente em qualquer posição sintática e nem ocorrer em isolamento, mas também não podem ser classificados como afixos, pois afixos tem posição fixa em relação ao seu hospedeiro.
OUTROS DESENVOLVIMENTOS DENTRO DA TEORIA GERATIVA ATUAL

Aqui é exposta uma visão geral dos fenômenos encontrados ao trabalhar com Morfologia e mostra que esses fenômenos nem sempre são concatenativos, Isto é, processados por meio da adição de morfemas. Alguns exemplos destes processos são:

· Mistura: palavras criadas com a junção de parte de duas palavras já existentes, por exemplo, portunhol, mistura de português e espanhol.
· Abreviação: um processo que uma palavra é criada pelo truncamento de outra, por exemplo, biju para bijuteria.
· Acronímia: palavras iniciadas pelas letras iniciais de uma sigla, por exemplo, IEL de Instituto de Estudos de Linguagem.
· Retroformação: processo que uma palavra é formada pala desafixação de certos morfemas, por exemplo, delega de delegado.

A Teoria da Otimalidade ou Otimidade é completamente diferente da teoria chomskyana. A teoria da otimalidade, proposta inicialmente por Prince & Smolensky (1993), é uma teoria que nega a análise gramatical por meio de módulos. Esse modelo diz que uma gramática particular é o resultado do ordenamento de um conjunto de princípios universais, isto é, aplicados em todas as línguas, mas violáveis.
A teoria da otimalidade não pretende, no entanto, ser uma teoria morfológica. Seu objetivo é muito mais ambicioso. Ela pretende ser uma teoria da linguagem como um todo, isto é, pretende analisar e explicar qualquer fenômeno linguístico por meio da mesma instrumentação.
De acordo com o modelo gerativo, otimalista ou não, os mecanismos responsáveis pela linguagem são inatos e, portanto, independentes de aspectos culturais. Uma grande questão que o quadro gerativo atual está se esforçando para responder é como pode haver tamanha diversidade e uma gramática universal ao mesmo tempo.
A Morfologia, como no estruturalismo, volta a ser o principal campo de investigação da teoria gerativista atual. Neste ponto há uma convergência entre o gerativismo atual e o estruturalismo, ao considerar a Morfologia como um ponto crucial de investigação.

CONCLUSÃO:

O estudo da morfologia é muito controverso e nesse capitulo essa questão é apresentada com bastante ênfase pelas organizadoras. Contém textos escritos por grandes autores e teorias apresentadas desde décadas atrás, até as mais atuais. O capítulo mostra que a Morfologia é o estudo da formação e classificação de palavras em si, e não como elas estão dentro de uma oração ou frase, ou seja, é o estudo da estrutura interna das palavras. É visto que a palavra é a unidade máxima da Morfologia e sua unidade mínima são os morfemas, são eles que compõem e carregam o significado dentro de uma palavra.
No quadro Estruturalista temos a preocupação de explicar como reconhecemos palavras que nunca vimos antes e a resposta para isso é o nosso conhecimento de morfemas. O problema central do Estruturalismo é o de identificar os morfemas existentes em todas as línguas do mundo. A seção do quadro estruturalista é finalizada com a afirmação de que certos fenômenos gerados pela interação entre a Fonologia e a Morfologia são de fundamental importância tanto para o estruturalismo quanto para o gerativismo.
Na teoria gerativa padrão o objetivo é introduzir o estudo da relação entre Fonologia e Morfologia tendo como base os primeiros anos do gerativismo (Chomsky & Halle, 1968). A seção é finalizada com a apresentação da seguinte que trata de apresentar um histórico do desenvolvimento do estudo da Morfologia na teoria gerativa, mostrando que a Morfologia tem também uma interface com a Sintaxe, além da interface com a Fonologia.
A partir desta seção o capítulo passa a mostrar o desenvolvimento da Teoria Gerativa desde a década de setenta até a década atual, apresentando a Morfologia Derivacional, Morfologia Flexional, Minimalismo, Morfologia Distribuída e Teoria da Otimalidade. Também apresenta alguns desenvolvimentos dentro da teoria gerativa atual, como, por exemplo, a mistura, abreviação, acronímia e retroformação.
Finaliza afirmando que a Morfologia, como no estruturalismo, volta a ser o principal campo de investigação da teoria gerativista atual. Neste ponto há uma convergência entre o gerativismo atual e o estruturalismo, ao considerar a Morfologia como um ponto crucial de investigação.http://img1.blogblog.com/img/icon18_email.gifhttp://img2.blogblog.com/img/icon18_edit_allbkg.gif

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